"Átimo: Profanus"

HELDER SANTOS - Das memórias trazidas na bagagem do asfalto quente do arquipélago recifense, passando pelas entranhas do expressionismo alemão, pulando para fora dos quadrinhos para tropeçar pelos caminhos errantes do sertão pernambucano, a temática abordada pela obra de Helder Santos é tão rica quanto suas referências. Denso, desconfortável, sanguíneo. São muitos os adjetivos que pretendem classificar em poucas palavras o trabalho deste artista que reúne uma vontade gutural de expressão à técnica minunciosa da xilogravura.O primeiro contato com o ofício de gravar em madeiras se deu com a literatura de cordel e a arte de Gilvan Samico. Posteriormente o estudo da História da Arte o aproximou do trabalho soturno de E.Munch e O.Goeldi. Identificação imediata e duradoura. A estes se somaram ao movimento punk, as desconfianças e situações desconcertantes das graphic novels de Lourenço Mutarelli, Charles Burns e Joe Coleman, as capas de discos do Black Flag e do Sonic Youth de Raymond Pettibon, e os terrenos sombrios e oníricos pelos quais vagam as personagens de Juan Rulfo, Julio Cortázar e Franz Kafka. Tendo como norte o fascínio pelo universo dos sonhos e pelo profano como não-sagrado, as infinitas possibilidades oferecidas por sua matéria-prima aproximaram-no de seus elementos mais particulares e permitiram que sua força criativa saltasse da goiva direto para os veios da madeira. Afinal, é nela que ele pode brincar de colar memórias e trabalhar com suas personagens, em sua maioria figuras urbanas, aquelas cuja presença é non-grata, párias adornados com brasões e estigmas que os caracterizam, o desenho dentro do desenho, com seus matizes e luzes."É a possibilidade de inserção de luz onde antes tudo era preto.", complementa.

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